Como e o tratamento do Transtorno do Panico

Como vimos no artigo “Como saber se estou tendo uma crise de pânico”, em momentos de crise o corpo passa por uma série de reações fisiológicas como se estivesse de fato vivenciando um grande perigo e dispara sintomas como taquicardia, respiração ofegante, tremor etc.

A sensação é de que não há alternativa e a impressão é de que a pessoa está entrando em colapso. Como de fato, não há nenhum perigo real que justifique estas reações, a mente volta a atenção para as reações expressas no corpo e conclui que estas reações fisiológicas são perigosas, o que desencadeia uma sequência de pensamentos catastróficos, e a pessoa pensa nas piores possibilidades por se sentir sem controle algum do que está acontecendo com ela.

Nesse artigo vou focar mais profundamente no tratamento. É consenso ser fundamental para o sucesso do tratamento que o indivíduo deve saber exatamente o que acontece com ele para se sentir mais confiante a respeito de seu prognóstico. Para tanto a pessoa deve passar por uma Psicoeducação.

– Psicoeducação:

Nessa modalidade de tratamento, a pessoa vai compreender o que é o pânico, e assim descobrir que tem capacidade para lidar com a ansiedade excessiva e as possíveis crises de pânico. À medida que compreende melhor os sintomas que experimenta, o indivíduo começa a entender que há luz no final do túnel.

Durante o processo de psicoeducação a pessoa vai aprender o que é ansiedade, como e porque as crises de pânico acontecem, identificar que as reações do corpo são tentativas de se defender, sair e escapar do estado de ameaça que a mente acredita ser real, mas que por serem vistas dessa forma. são interpretadas como ameaças internas, gerando ainda mais ansiedade. A pessoa entende a relação emoção-corpo-pensamento no desencadeamento e manutenção do pânico.

-Autoterapia

 A pessoa vai compreender que precisa ser seu próprio terapeuta e, portanto, desenvolver condições para se autorregular emocionalmente, e para isso, vai aprender ferramentas e estratégias para intervir positivamente no seu estado emocional.  Através do rastreamento das suas emoções e reações fisiológicas, a pessoa reconhece que ela é capaz de perceber e contribuir para controlar os processos que seu corpo precisa aprender para sair do estado de medo e ausência de saída, que define o estado de pânico. O indivíduo, quando munido das ferramentas e técnicas adequadas, consegue localizar, reconhecer e facilitar a autorregulação emocional e voltar ao estado de homeostase.

As ferramentas de autogerenciamento incluem treinos respiratórios, técnicas de atenção plena (Mindfulness), técnicas de relaxamento, técnicas visuais, auto hipnose, reestruturação cognitiva etc.  Todo esse repertório de ferramentas e estratégias agem sobre o estado físico e psíquico e expandem a capacidade de autorregulação emocional.

-Aumentar a competência de tolerar o desconforto físico e emocional.

O indivíduo que enfrenta crises de pânico sente-se traumatizado pela experiência e desenvolve um medo de sentir medo e passa a interpretar essas reações de seu corpo como evidências de que está gravemente doente e prestes a viver uma grande tragédia. Os pensamentos estão sempre relacionados ao medo de enlouquecer, desmaiar, morrer. Portanto é fundamental esfriar esta associação automática corpo-ameaça e possibilitar a instalação de uma nova visão sobre suas reações fisiológicas.

Para tanto, lançamos mão de algumas técnicas com excelentes resultados terapêuticos:

Atenção plena direcionada às reações fisiológicas como agente observador. Essa técnica permite que a pessoa experimente suas reações de forma consciente identificando a relação pensamento, emoção e resposta somática.

Identificação dos pensamentos automáticos negativos

Quando em estado de ansiedade excessiva, a pessoa é frequentemente atropelada por uma avalanche de distorções cognitivas, ou seja, ela imagina cenários dignos de filme de terror e em consequência seu corpo responde com os sintomas de taquicardia, falta de ar, enjoo, aperto no peito, nó na garganta, tremor, sudorese excessiva etc. Portanto, aprender a identificar que naquele momento entrou no modo alta produção em escala de pensamentos catastróficos vai dar a ela a percepção de que se é ela quem produz pode ser ela também que encerra a produção desse padrão de pensamentos.

A pessoa percebe que seus pensamentos nada mais são do que eventos mentais e que não são necessariamente reais. Aprende a observar e reconhecer os padrões de pensamentos ameaçadores sem ser controlado por eles.  O indivíduo pratica e desenvolve a competência de ficar como o “eu observador” e assim aprende a se distanciar do “eu pensador”.

A combinação dessas técnicas e ferramentas neutraliza a memória traumática estabelecida pelas crises de pânico recorrentes.

Em casos em que a pessoa está em estado de profundo descontrole emocional a medicação é considerada de grande ajuda melhorando o estado geral da pessoa. Porém, é primordial ter clareza de que a medicação não cura e não ensina à pessoa como ter controle de seu estado psicossomático. Portanto a ajuda medicamentosa é limitada a trazer um estado de tranquilidade momentânea, mas não consegue evitar o aparecimento de novas crises.  Não prepara a pessoa para compreender a equação evento estressor emoção pensamento reações fisiológicas que desencadeiam as crises de pânico. Não possibilitam o desenvolvimento de competências de enfrentamento

tratar o pânico somente com medicação é manter a pessoa refém da ansiedade

É viável tratar a pessoa com Transtorno de Pânico sem uso de medicamento e temos obtido ótimos resultados, porém cada caso deve ser avaliado individualmente considerando-se o custo-benefício.

O objetivo desse processo psicoeducativo é tornar a pessoa capaz de se sentir identificada com seu corpo, de perceber e controlar seus pensamentos e consequentemente as emoções e reações fisiológicas.

O Transtorno de Pânico é uma doença desgastante e por vezes limitadora e precisa ser superada para que a pessoa retome suas atividades normalmente. Ao superar esse transtorno é importante que a pessoa ressignifique a experiência como uma representação de sua capacidade de enfrentamento e superação.

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Vânia Calazans

Psicóloga Clínica pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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